terça-feira, 23 de junho de 2009

Tráfico


Nos primeiros 150 anos da colonização portuguesa, o Rio de Janeiro destacou-se mais pela importância geopolítica do que por seu papel econômico. O grau de inserção do Rio na economia atlântica só aumentou, através da produção de gêneros para o abastecimento do Nordeste e de açúcar, após a bem-sucedida invasão do Nordeste pelos holandeses, em 1630, e com a crise geral que na mesma época passou a assolar a economia européia.

Antes disso, em algum momento da segunda metade do século XVI, a quantidade de escravos Índios foi superada pela de africanos, os quais eram reexportados em parte para Buenos Aires, em troca da prata vinda de Potosí (na atual Bolívia). Parcela substancial dessa prata era dirigida para a aquisição de negros na África, em especial na área do golfo da Guiné, para o que também concorria o escambo de farinha de mandioca, aguardente e tabaco. Com a mineração, cresceu a importação de escravos do Congo e de Angola e, já por volta da década de 1730, essas áreas suplantaram o golfo da Guiné como fontes de negros para o Sudeste brasileiro.

Em pouco tempo o porto carioca se firmaria como o principal núcleo brasileiro de escoamento dos cativos vindos daquelas regiões. Isso é comprovado pela distribuição dos escravos exportados para o Brasil, de 1720 a 1770, por Luanda (Angola), maior porto negreiro africano ao sul do Equador: 42% destinavam-se ao Rio de Janeiro, 32% ao Recife e 23% a Salvador.

Durante a segunda metade do século XVIII, a ligação da costa angolana com o Rio era tão estreita que as letras cariocas levadas por traficantes de escravos brasileiros circulavam como dinheiro na cidade de Benguela. Com a escravização, milhares de negros das mais variadas culturas acabaram se misturando e tiveram de passar a conviver juntos, criando laços de comunicação e de socialização.

A historiadora Marina de Mello e Souza, em seu artigo "Destino impresso na cor da pele", relata que "ao serem arrancados de suas aldeias e transportados pelo continente africano rumo às feiras regionais e aos portos costeiros, os escravos de diferentes etnias misturaram-se, aprenderam a se comunicar, criaram novos laços de sociabilidade que se consolidaram durante os horrores da travessia atlântica, e se institucionalizaram no seio da sociedade escravista colonial, à qual foram inseridos à força, acabando por encontrar formas de integração".

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